Os trilhos das Estação Ferroviária de Salgueiro

Por Raquel Rocha

A Estação Ferroviária de Salgueiro, inaugurada em 1962, é o fim da Linha Centro, que ligava o litoral pernambucano ao Sertão. De fato, é o que podemos chamar literalmente “o fim da linha”. No projeto inicial a proposta era continuar o trajeto até Missão Velha, no Ceará. Esse intento, no entanto, nunca foi concretizado.
Os armazéns que hoje abrigam o Centro de Cultura já foram quase a casa muito engraçada, que não tinha teto, não tinha nada
Para a construção da Linha Centro, uma locomotiva a vapor, conhecida popularmente como Maria Fumaça, puxava os vagões carregados de trilhos, pedras e dormentes. À proporção que a linha ia sendo construída, a Maria Fumaça avançava. O ferroviário aposentado, José Solano da Silva, conhecido com Zé Bombeiro, conta que foi a empresa Construtora Camillo Collier – ECCC que construiu a ferrovia de Sertânia até Salgueiro, com o apoio de uma máquina a vapor.

Um dos principais produtos transportados de Salgueiro até Recife provinha de Araripina, Trindade e Ipubi, principalmente das mineradoras Ponta da Serra, Poty, Nassau e Zebu. Era a gipsita. Cada vagão tinha capacidade média para 80 toneladas e, em média, a quantidade total de carga embarcada da Estação de Salgueiro era de 1450 toneladas, que puxadas por duas locomotivas, percorriam 610 km, em aproximadamente 18 horas. Diariamente saiam dois trens de Salgueiro, sendo que toda quarta-feira havia embarque de boi de Salgueiro para Caruaru e até mesmo Recife. Saíam também dessa Estação, caprinos, ovinos e ovos com destino à Caruaru e Camaragibe. No percurso Salgueiro-Recife cada locomotiva era alimentada por 277 kg de óleo diesel.
Estação já abandonada, servia apenas aqueles que não tinham teto
Casa de Damião ao fundo
Na Capital pernambucana, parte da carga era entregue na fábrica Poty, produtora de cimento. A outra parte seguia para João Pessoa/PB e era entregue na fábrica Zebu, também de cimento. De Salgueiro, ainda, era despachado gesso em pó para Minas Gerais, de lá seguindo para São Paulo.

Vinda de Ouricuri, de Verdejante, Cabrobó, Exu, Penaforte (CE) e de outros municípios do entorno de Salgueiro, a mamona também saía de Salgueiro para a Estação das Cinco Pontas de onde era entregue na Estação Edgar Werneck, em Recife, à Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro S/A – Sanbra, atual Bunge Alimentos, produtora de óleo. Os armazéns da Estação de Salgueiro abrigavam mamonas, milho vindo do Cedro, feijão e puma de algodão produzida na fábrica do Coronel Veremundo Soares e exportada para a Alemanha. Também armazenaram merenda escolar e farelo de soja vindo das Indústrias Coelho, em Petrolina.

O transporte de passageiros até a Capital foi disponibilizado com a inauguração da Estação. Inicialmente o trajeto era feito todos os dias. Já perto do fechamento do serviço de passageiros, foi diminuindo a freqüência semanal. A duração da viagem era de 14 horas. O ex-ferroviário Severino Alves de Ataíde, que foi agente chefe da Estação de Salgueiro, conta que, naquele período, havia cinco vagões, cada um com capacidade para 50 pessoas, sendo que um deles era mais confortável, com valor de primeira classe.
14 horas de viagem para chegar às cinco pontas
Já o ferroviário aposentado Anderson Alves Freire, que sucedeu o senhor Ataíde na chefia da Estação, relembra que à sua época existiam, em média, três vagões de primeira classe com cadeiras acolchoadas e em pares, além de cortinas nas janelas; quatro vagões de segunda classe com bancos de madeira sem divisórias; um vagão para bagagens e um para o restaurante, acrescentando, ainda, que cada vagão tinha um sanitário.

De Recife para Salgueiro, o transporte era em pouca quantidade. Os trilhos da Rede Ferroviária Federal S/A – RFFSA transportavam mercadoria a granel, entre eles, cimento, calçados e tecidos.

A Estação de Salgueiro funcionou até 1992.
Saudosa SANBRA
Meu paladar é fino também
Curiosidades
- Cada locomotiva, mesmo as menores, pesava 70 toneladas.
- Em Recife, as cargas transportadas por toda a Linha Centro desembarcavam na Estação das Cinco Pontas ou em Suape. Além disso, a Estação das Cinco Pontas era oficina de manutenção das locomotivas.
- Em Recife, os passageiros desembarcavam na Estação Central.
- Por meio da ferrovia, Caruaru e Recife recebiam fuba da fábrica Fubá Catita, de propriedade de Gonzaga Patriota, para ser utilizada na merenda escolar.
- Era possível destinar cargas saídas da Estação Salgueiro para, além das estações da Linha Centro, Natal, Campina Grande, Maceió e Garanhuns.
- Quando passava na Francisco Correia, a locomotiva e os vagões eram alvos de pedras e de crianças furiosas com medo que o amontoado de metal que se movia roubasse suas almas.
- Rafael Rocha já bateu a cabeça em trilho enquanto tentava, de forma radical, se equilibrar de bicicleta nele.

Estações entre Estação das Cinco Pontas e Salgueiro

1.        Estação Centro
      25.  Ipanema
2.        Afogados
      26.   Mimoso
3.        Ipiranga
      27.   Arcoverde
4.        Edgar Werneck
      28.   Henrique Dias
5.        Tejipió
      29.   Pinto Ribeiro
6.        Coqueiral
      30.   Sertânia
7.        Floreano
      31.   Albuquerque Né
8.        Jaboatão
      32.   Irajaí
9.        Moreno
      33.   Iguarací
10.     Tapera
      34.   Carnaíba
11.     Vitória de Santo Antão
      35.   Engenheiro Cornélio
12.     Pombos
      36.   Flores
13.     Russinha
      37.   Calumbi
14.     Cascavel
      38.   Serra Talhada
15.     Gravatá
      39.   Felipe Camarão
16.     Bezerros
      40.   Mirandiba
17.     Gonçalo Ferreira
      41.   Vidal de Negreiro
18.     Caruaru
      42. Fernando Vieira ou Roça Queimada ou Curral Queimado
19.     Insureeição
      43.   Arlindo Luz
20.     São Caetano
      44.   Salgueiro
21. Tacaimbó
     
22.  Belo Jardim
     
23.  Sanharó
     
24.  Pesqueira
         

Fontes:
- Anderson Alves Freire – Trabalhou na Estação de Salgueiro de 1º de abril de 1976 a 6 de novembro de 1990.
- Severino Alves de Ataíde – Trabalhou 11 anos na Estação de Salgueiro (infelizmente faleceu antes da matéria ser publicada).
- José Solano da Silva – Trabalhou na Estação de Salgueiro de dezembro de 1970 a 1985.
- José Francisco da Silva – Trabalhou na Estação de Salgueiro de 1962 até 1995.
- Foto da Estação das Cinco Pontas retirada de http://memoriaferroviariadepe.blogspot.com.br.
Obs: Perdemos as fontes das outras fotos.

Raquel Rocha vanguardista do jornalismo salgueirense, especialmente para o Pajaracas.

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